quinta-feira, 16 de julho de 2015

Volta a França - O Tour da Sky



Terminaram as etapas dos Pirinéus, e a Volta a França seguirá agora em direcção aos Alpes, passando pelo Maciço Central Francês durante os próximos dias. Dias que deverão ser importantes para a decisão da camisola verde, que para já Sagan lidera por apenas dois pontos... Esta classificação promete incerteza até Paris! Valha-nos isso! 
A Sky e Chistopher Froome mostraram-se muito acima da concorrência durante a passagem pelas montanhas dos Pirenéus. Tão acima, que o inevitável aconteceu! As suspeitas de recurso a métodos ilícitos por parte dos britânicos ensombra um Tour que prometia uma luta épica entre pelo menos 4/5 grandes nomes... luta que terminou praticamente no primeiro "round". As diferenças são já bastante significativas, mas esse nem é o maior dos problemas. Numa normal Volta a França, ainda alguma coisa poderia acontecer.. pelo menos, poderia haver incerteza, mas para mim, a incerteza prende-se apenas com alguma "infelicidade" que possa acontecer a Froome durante a segunda metade da prova - e que espero sinceramente que não aconteça. Froome mostrou-se acima dos outros (bastante acima até), mas... até aí, tudo bem. Teríamos sempre de classificar a performance de Froome na Pierre Saint Martin como algo extraordinário, e como um dos grandes dias dos últimos anos do Tour. Mas o que mais incomoda neste momento o mundo do ciclismo, é o excesso de força de toda a equipa da Sky, que nesse dia faz primeiro, segundo e sexto na etapa - com Geraint Thomas quase a queixar-se no final da etapa que ficou preso no grupo de Van Garderen, e podia ter feito melhor se assim não fosse. A subida a Plateau de Beille mostrou mais do mesmo! Depois de um longo bocejo até ao início da última subida (inacreditável como as equipas adversárias da Sky não forçaram a que pudesse acontecer o que quer que seja - já la vamos), a Sky voltou a usar Porte e Thomas como braços (pernas?!) direito e esquerdo de Froome. Os ataques acabaram por surgir na última metade da subida, embora de forma algo tímida, como se toda a gente estivesse com medo de sofrer mais algum golpe histórico. Não sofreram contra-ataque, mas sofreram, na minha opinião, uma humilhação pela forma como Richie Porte e Geraint Thomas anulavam os ataques que surgiam de forma tranquila, não reagindo ao ataque em questão, mas mantendo um ritmo do tipo já-te-apanho-daqui-a-100m. E assim foi, atacou Valverde, Nibali, Contador, Quintana.. alguns por mais que uma vez. Enquanto Froome permanecia tranquilo, a Sky mostrava a toda a gente que fará deste Tour o que bem entender.. ganhará quando quiser, e deixará ganhar quem quiser. Esta postura só por si incomoda quem não consegue ganhar.. mas se ela vem de uma franca superioridade dos atletas, não se poderá dizer muito. O problema, é que esta Sky não apresenta um leque de ciclistas assim tão fora do vulgar, que possa permitir que se pense que o domínio é assim tão normal. Afinal de contas, Porte não é propriamente o melhor dos trepadores... nem estará na melhor forma da sua carreira - ou não devia. Geraint Thomas é contudo um caso mais evidente da arrogância dos britânicos. Afinal de contas, Thomas sempre foi um bom ciclista de provas de um dia... fazendo bem contra-relógios (não sendo propriamente especialista) e por vezes aparecendo em finais de etapas com chegadas rápidas mas complicadas/armadilhadas! Nunca, até Thomas ter chegado aos 29 anos, se tinha visto o britânico a escalar montanhas por entre os melhores, ao ponto de poder combater de igual para igual nomes como Quintana, Contador ou Nibali. No entanto, eis que de repente, Thomas faz uma boa Volta a Suiça, chega ao Tour, e sobe as mais difíceis montanhas ao lado dos melhores, anulando os ataques de Quintana e companhia, coisa que apenas se pensava estar ao alcance de Froome. Ora, quem acompanha a modalidade há algum tempo sabe que estas coisas acontecem por vezes... mas sempre que aconteceram no passado, sempre se acabou por saber/descobrir/perceber, que havia um qualquer produto/programa especial que levava a isso. Não há milagres! Cada um é como é.. e quando numa Volta a França Stefan Schumacher resolveu ganhar um contra-relógio à locomotiva Cancellara, rápido se descobriu que o que o tinha feito ganhar tinha nome de CERA/EPO. Ora, se a malta se indigna e repudia o façanha de Schumacher, um "vulgar" ciclista todo o terreno que bate o melhor do mundo no CR, porque raio não haverá de se indignar quando o "vulgar" todo o terreno britânico consegue subir o Plateau de Beille ao nível dos melhores trepadores do mundo, fazendo a subida ainda mais rápido que o hoje odiado Lance Armstrong que todos repudiam por correr dopado. À parte de estarmos perante um desaproveitado talento, que podia ter tido uma carreira ao nível dos grandes nomes do ciclismo mundial das últimas décadas (acredita quem quiser), a explicação para tão bons desempenhos tem que ser outra. É esta gula sem vergonha que me incomoda a mim e a muita gente por esta altura.. porque a receita dizem é a mesma da US Postal, mas para mim, a receita é bem mais forte em condimento! A US Postal nunca usou um George Hincapie para sodomizar um grupo de ciclistas como Ulrrich, Beloki ou Basso. Lembro-me que apesar dos seus programas (iguais a tantos outros), rodeavam-se sempre dos melhores para o fazer - Roberto Heras, José Azevedo, Rubiera, Beltran.. etc..). Era difícil bater Armstrong, porque além de se preparar de forma "meticulosa", rodeava-se dos melhores que podia para garantir a sua vantagem. As dosagens de EPO e afins podiam ser maiores... mas o descaramento era seguramente menor, e o respeito pelos adversários (ou pela maioria) era de se tirar o chapéu. 
O Tour seguirá... os próximos dias ditarão novidades... nem que seja, na luta pelo segundo e terceiro lugares. O primeiro deverá estar entregue, e para grande alegria do presidente da UCI que entretanto resolveu vestir literalmente o equipamento da Sky... por isso, nada há a temer para os lados de terra de sua majestade! 

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